As televisões exultam com os 94 milhões pagos por um português que joga à bola. Sobem ao céu com o facto assombroso desse português que joga à bola ter sido observado em atitudes mais ou menos íntimas com a socialite Paris. Em Madrid, prestes a rebentarem de patriótico orgulho, os repórteres vagueiam pelas ruas procurando entrever nos olhares dos castelhanos uma chispa de inveja desse país que viu nascer um jogador de futebol capaz de valer 94 milhões e de se passear madrugada adentro com a delgada menina Hilton. Nas entrelinhas, nem um murmúrio de reprovação pela conjugação de obscenidades. Só o deslumbramento pacóvio pela cultura do dinheiro e pela vida doce e fútil de um homem de sucesso.