Isto não interessa apenas a quem gosta de futebol. Diz respeito a todos, pois evidencia uma certa paranóia do politicamente correcto da qual devemos proteger-nos antes que, por um destes dias, a experiência da liberdade individual seja confinada a rituais iniciáticos praticados em lugares ermos. Victor Pereira, o presidente da Comissão de Arbitragem da Liga de Clubes, acaba de afirmar que «os muçulmanos são, por motivos, religiosos, contra a exibição do corpo nu», esclarecendo, com invejável perspicácia, que «isso acontece parcialmente quando um jogador tira a camisola ou a puxa para cima da cabeça». Nestas condições, e como o futebol é um jogo global, «devem respeitar-se estas crenças religiosas.» Punam-se então os jogadores que tiram o jersey num gesto de alegria (já acontece, saibam os mais distraídos), impeça-se o insolente público de vibrar com eles, e, já agora, estude-se seriamente a possibilidade de forçá-los a usarem collants durante os jogos. Mas como as praias são também lugares públicos, e pode encontrar-se em alguma duna um mirone fundamentalista de binóculos, exija-se aos banhistas um fato completo de homem-rã. Naturalmente, fora de água as mulheres-rã deverão abster-se de tirarem os óculos. E assim viveremos em paz. Ou quase.