A leitura e o mal

Hitler

A ideia segundo a qual ler faz as pessoas melhores, vulgarizada pelos iluministas e pelos românticos, e comum a muitas campanhas de divulgação da leitura e a «máximas» proclamadas por boas almas, acaba de sofrer mais um abalo. O historiador alemão Ulrich Sieg publicou há pouco tempo um artigo no Frankfurter Allgemeine no qual revelou que Adolf Hitler não só possuía uma enorme biblioteca pessoal – cerca de 16.000 títulos – como terá de facto lido uma grande parte deles, uma vez que dos 1.200 conservados quase todos foram cuidadosamente sublinhados e anotados. De fio a pavio. Como seria de esperar, os livros sobre a Primeira Guerra Mundial, estratégia militar, magia e esoterismo preenchiam uma boa parte daquele número, mas havia também muitas obras de filosofia (sobretudo de e sobre Kant, Schopenhauer e Nietzsche) e ficção. De facto, ler muito não faz necessariamente bem às pessoas. Pode até ser tóxico e exemplos históricos como este não faltam. O elogio e a propaganda da leitura devem procurar estratégias melhores do que aquelas que insistem em mostrá-la como território nuclear da formação da bondade de carácter. Declarando, por exemplo, a crítica e o debate como instrumentos inseparáveis do acto de ler.

    Etc..