Escadas pintadas

As escadas

Três curtos parágrafos sobre o «caso» da pintura das Escadas Monumentais da Universidade de Coimbra com propaganda eleitoral do PCP-CDU e da manifestação canalha e desproporcionada de uns quantos estudantes universitários, de negro trajados e com o estranho apoio da direcção da Associação Académica, que para a contestar se lhe seguiu.

Qualquer pessoa com alguma sensibilidade estética e sem uma perspectiva politicamente utilitarista que realmente tenha visto a «obra» – já ali projectada, aliás, noutras ocasiões eleitorais – sabe que não é um primor visual. Apesar de ser absolutamente legal, tal como a CNE acaba de confirmar, seria no entanto escusada, uma vez que se trata de propaganda algo agressiva, que com aquelas proporções é ecologicamente desajustada ao local. Não importa quem a realizou: se fosse o Bloco de Esquerda ou o CDS, a situação seria rigorosamente a mesma. Falamos não de um mural mas de uma pintura sobre a via pública, num local de passagem inserido na malha urbana da Universidade, onde todos os dias circulam obrigatoriamente muitos milhares de pessoas de todas as tendências ou opiniões, que não deveria sofrer intervenções desta natureza. Aliás, também não me agradaram as criações pseudo-artísticas e de diferentes origens que ali foram realizadas noutras alturas. Em causa está sobretudo o facto de se tornarem por vezes tão fortes, tão impositivas, tão «gritadas», que impedem os cidadãos de cruzarem a área de forma clean, fazendo a sua vida normal na fruição de uma cidade já de si bastante martirizada no equilíbrio das formas e dos espaços.

Todavia, a posição tomada pelo grupo de estudantes, que se serviu do facto para boicotar um comício do PCP-CDU, já me parece oportunista e absolutamente condenável. Foi, aliás, feita não em tom de crítica, mas sim sob a forma de gritos e de impropérios ofensivos, fazendo com que se perdesse a razão que poderia ser reconhecida a qualquer reparo. Já a posição da organização em causa, ou de alguns dos seus defensores, também foi exacerbada e num desajustado mas recorrente estilo «vitimizante». A mim, o que aconteceu parece antes uma mera expressão de parvoíce e de incultura democrática, vinda aliás de núcleos dessa estúrdia estudantil que nos anos oitenta os próprios estudantes da JCP, antecessores dos actuais, talvez sem o querer ajudaram a recriar. Mas essa é outra história, que fica para melhor altura.

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