É sabido que depois da cisão entre os bolcheviques e os mencheviques russos, consumada em 1904, a polaca-alemã Rosa Luxemburgo se opôs a Lenine e à sua conceção autoritária de centralismo democrático. Aliás, em 1918 chamou de novo a atenção para a tentação de confundir a ditadura do partido com a do proletariado. E, quando estes começaram a excluir «todos aqueles que pensam de maneira diferente», não deixou de criticar aos bolcheviques o esvaziamento da democracia dos sovietes a que essa política inevitavelmente conduziria. A mais conhecida das suas citações, retirada de um texto publicado na altura, é, aliás, «a liberdade é sempre a liberdade de quem pensa de forma diferente». Pode ainda recordar-se uma outra frase, também do ano seguinte ao da revolução soviética: «Sem eleições gerais, sem uma liberdade de imprensa e de reunião sem restrições, sem um forte combate de ideias, a vida de toda a instituição pública morre, tornando-se uma mera aparência de vida na qual só a burocracia permanece como elemento ativo». Quando se completam 141 anos sobre o nascimento de Rosa, é caso para dizer que a História foi madrasta ao levá-la tão cedo – morta em Berlim em 1919, durante a revolta spartakista, às mãos das milícias da direita, e não da social-democracia alemã como se mente por aí –, poupando a Vladimir Ilitch a refutação de uma voz à altura. Provavelmente a história geral do socialismo seria contada hoje de um modo bastante diferente.