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Coimbra e a planificação do caos

Viver numa cidade média tem as suas vantagens. Uma delas é quem nela mora demorar pouco tempo a deslocar-se, nada ficando distante, em regra, mais que 15/20 minutos do ponto em que se encontra. Assim acontece também em Coimbra, a cidade onde, retirando alguns intervalos para passear ou aprender, basicamente vivo há 54 anos. É hoje o 16º município do país em volume de população, quase apanhado, aliás, por Vila Franca de Xira, Famalicão, Maia ou a Feira. Na minha escola primária ensinavam-nos que era o terceiro, mas isso era antes, quando a sua universidade era uma das poucas em Portugal, e a elite local e académica ainda acreditava habitar o centro do mundo.

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    Apontamentos, Cidades, Coimbra, Olhares

    «Coimbrinhas», de novo

    A característica marcante do que na cidade onde vivo desde 1969 se chamam os «coimbrinhas» – termo pejorativo quase caído em desuso, de que só os últimos «coimbrinhas» se servem para referirem uma entidade abstrata da qual sem o conseguirem se procuram excluir -, consistia em ver o mundo reduzido à escala dos estreitos horizontes da cidade pequena e provinciana que ia do Choupal à Figueira da Foz (apesar da universidade, para alguns críticos por causa dela, ou de parte dela).

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      Apontamentos, Coimbra, Ensaio, Olhares

      Contra a desmemória

      Abaixo-assinado de 71 professores da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra relacionado com um infeliz episódio ocorrido durante as festividades de Queima das Fritas. Sendo um dos signatários, entendo que não devo juntar aqui a minha opinião individual, que darei noutros lugares. Todavia, uma vez que este post servirá também para memória futura, junto três notas objetivas: 1) o episódio em si constou de uma brincadeira com o Holocausto, servindo-se ademais da simbologia de um comboio, que deveria ser integrada no habitual cortejo da festividade; 2) os 71 professores signatários foram aqueles que foi possível reunir em menos de 48 horas durante uma semana que é de interrupção das aulas, outros transmitiram entretanto o seu apoio a este documento; 3) alguns professores entenderam não assinar, o que estava, naturalmente, no seu direito; uma pequena minoria procurou demover colegas de o fazerem, o que não pode deixar de ficar registado. [Relembro: este comentário é estritamente pessoal e não vincula os signatários do documento que a seguir se transcreve.]

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        Coimbra, Democracia, Memória

        «Crise de 69»: celebrar e compreender

        Evocam-se neste Abril cinquenta anos sobre a «Crise Académica de 1969» em Coimbra. Os seus acontecimentos podem ser hoje encarados de três formas diferentes: duas mais voltadas para a celebração, uma terceira ocupada com a compreensão histórica. A primeira contém o testemunho dos que a viveram, retomando com orgulho e nostalgia uma parte memorável das suas vidas e o contributo maior dado à luta pela democracia. A segunda, a ser vista com alguns cuidados, é ocupada com perspetivas parciais ou equívocas, por vezes associadas à manipulação utilitária e institucional da memória. A terceira forma é preenchida por olhares retrospetivos e compreensivos sobre o acontecimento e a sua época.

        Perceber a «Crise» requer, em primeiro lugar, conhecer o seu contexto, e não apenas os factos que em Abril de 1969 a projetaram. Desde logo, observando a mudança sociológica do ambiente universitário, onde crescia a presença da classe média e das mulheres. Depois a expansão da cidade, com um timbre cada vez mais cosmopolita e urbano. Crucial foi também a influência política da «abertura marcelista», notória entre 1969 e 1971 (e logo de seguida infletida), com maior flexibilidade da censura e uma moderação provisória nos processos da repressão. Importante também foi a presença de uma cultura política de oposição ao regime, em crescimento desde as eleições de 1958, e de uma diversificação das suas correntes, com uma grande influência política e vivencial do marxismo e do existencialismo. Indispensável a entrada no meio universitário da atitude hedonista, libertária e inconformista dos anos 60, associada em boa parte à nova cultura juvenil de matriz anglo-saxónica. Para além da importância da vida estudantil pautada por uma cultura de debate, informada e crítica, que em Coimbra incorporava a atividade dos organismos da AAC e envolvia a sociabilidade dos cafés e das repúblicas, enquanto a cultura da «sociedade académica tradicional» tendia a desaparecer.

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          Coimbra, Democracia, História, Memória

          História do presente, a «crise de 69» e alguns mitos

          Começo por contar um episódio ocorrido comigo que já referi em público algumas vezes. Tendo há algum tempo sido convidado para participar num ciclo de conferências-debate sobre o movimento estudantil, fiz aquela que me competiu sobre a «crise de 69», o importante momento do combate da juventude universitária contra o autoritarismo do regime e das autoridades universitárias que aconteceu em Coimbra e do qual se evoca agora o cinquentenário. No final da sessão, num daqueles momentos em que os conferencistas contactam o público, fui abordado por um senhor que me disse o seguinte: «olhe, gostei imenso de o ouvir, mas tenho a dizer-lhe uma coisa: tudo o que disse é mentira, pois eu estive lá e sei que não foi assim.» É claro que tivemos de esclarecer o imbróglio. Fomos beber um café e antes de nos separarmos já essa pessoa me dera razão: «afinal estive lá, mas não vi certas coisas e não fiz algumas ligações».

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            Atualidade, Coimbra, Democracia, História, Memória

            Coimbra, 1969 e depois

            A história dos últimos anos da oposição ao Estado Novo não pode ser feita sem ter em conta o movimento estudantil e, dentro deste, sem mencionar os acontecimentos que tiveram lugar em Coimbra durante a «crise académica» vivida entre Abril e Julho de 1969. A perfazer agora meio século, esta configurou um momento crítico da vida portuguesa daquela época, marcando para sempre o país, a cidade, a sua universidade e quem a viveu. Tendo sucedido numa fase de relativa abertura do regime – em plena «primavera marcelista», um tempo de esperanças rapidamente goradas –, representou, para toda uma geração de universitários, uma parte inesquecível das suas biografias pessoais e uma escola de política e de democracia. Ao mesmo tempo, ajudou a sacudir um sistema político decrépito que cinco anos depois iria ruir com estrondo.

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              Coimbra, Democracia, História, Memória, Música, Olhares

              Paris-68, Coimbra-69 e depois

              Completa-se este mês meio século sobre a revolta de Maio de 68 em França. Sensivelmente pela mesma altura, no próximo ano decorrerá o cinquentenário da crise académica de 69 vivida em Coimbra. São temas dos quais, como professor de história contemporânea, costumo falar em aulas e seminários, e por isso estou habituado à confusão recorrente – compreensível entre quem pouco ouviu falar dos dois momentos, ou deles retém apenas vagas e imprecisas ideias –, estabelecida entre um tal «Maio de 69» e uma certa «Crise de 68». De uma coisa tenho a certeza: esta confusão alimenta-se da ideia de que uma (a crise) e o outro (o movimento) se encontram estreitamente interligados. Tenho más notícias para quem partilha desse mito ou se ocupa a alimentá-lo: não é de todo verdadeiro que essa ligação tenha acontecido. Existe um equívoco a propósito da influência imediata do Maio de 68 em Portugal. (mais…)

                Coimbra, História, Memória, Olhares

                Em quem voto (em Coimbra)

                1. Tenho escrito sobre a decadência real da cidade onde moro e onde passei a maior parte da minha vida. Aquela que, ao contrário da ilusão que é mantida, passou de 3ª a 15ª do país. Apesar das potencialidades que contém, nas mãos do velho «bloco central» – que aqui perdura, pois, dadas as escolhas locais do PS e do PCP, não há «geringonça» possível em Coimbra – a cidade tem-se arrastado numa gestão à vista que a tem feito perder futuro e importância, deixando os seus habitantes numa vida real de letargia, cruzada por momentos de «pão e circo». Por isso me parece importante mudar ou, pelo menos, conter a discricionariedade arrogante da habitual governação da cidade.

                2. Nas anteriores eleições autárquicas apoiei o movimento Cidadãos Por Coimbra, que agrupou militantes do Bloco de Esquerda e do MAS, bem como muitos cidadãos independentes, alguns deles ex-militantes do Partido Socialista. Esse apoio foi mantido, mas admito que foi esmorecendo um pouco. Cedo comecei a encontrar uma excessiva concentração na gestão do quotidiano da cidade, em detrimento de uma intervenção que, obviamente sem a ignorar, se voltasse mais para a construção de um projeto e de um desígnio. Não retirei o meu apoio, mas por essa razão – e também por motivos da vida profissional – fui estado menos presente nas iniciativas do CPC.

                3. Por isso, quando há alguns meses o movimento viveu uma crise interna, que acabou por conduzir à saída formal ou informal de muitos dos seus fundadores e ativistas, decidi não me pronunciar. Não porque não tivesse uma posição, mas porque me pareceu mais correto (ou honesto, se preferirem), dado ter-me distanciado, não reaparecer apenas num momento difícil para debitar esta ou aquela posição. Continuo a considerar que essa divisão enfraqueceu o movimento, se não em número de votantes – isso veremos apenas no domingo – pelo menos em massa crítica. E que talvez pudesse ter sido evitada.

                4. Entretanto a perspetiva crítica que atrás referi manteve-se, se não se acentuou até um pouco nos últimos meses. Não entendo a política autárquica, sobretudo em cidades como esta, com as suas caraterísticas sociológicas e a sua dimensão real e simbólica, como devendo centrar-se quase essencialmente na gestão quotidiana da vida das pessoas, dos problemas, das necessidades, devendo antes ir mais além, num sentido mais assumidamente político, claramente ambicioso, que possa mobilizar mais pessoas. E, de uma vez por todas, constituir uma alternativa. Ser mais do «por» que do «contra» e pensar sempre em grande.

                5. Manter estas reservas não significa, porém, um estado de indiferença em relação às eleições do próximo domingo. Mesmo conservando algum distanciamento crítico, reconheço no atual CPC uma alternativa válida. Sobretudo por que é essencialmente composto por homens e mulheres que não têm da política local uma visão instrumental, que não se servem em vez de servir, que não se fixam em dogmas e vínculos a interesses, e que sei irão ter, nos lugares eleitos, uma atitude atenta e combativa, capaz de conter as dinâmicas autoritárias e de grupo das forças que provavelmente irão gerir a autarquia. Apontando para uma cidade outra e melhor, não sufocada pelos mesmos de sempre.

                6. Por isso, neste domingo irei votar nos Cidadãos Por Coimbra. Se for eleitor/a na cidade e concordar comigo (e se discordar um pouco também), proponho que faça o mesmo.

                  Cidades, Coimbra, Democracia, Opinião

                  Coimbra em tempo de autárquicas

                  As eleições autárquicas servem para confrontar projetos de futuro, não apenas para passar uma carta branca a quem for eleito para gerir localmente o poder. Isto significa que nas campanhas deveriam ser as ideias para a vida partilhada na sua casa comum pelos residentes, e não tanto os rostos tratados com Photoshop ou as lealdades políticas, a servir de mote ao debate e a determinar as escolhas. Partidos e movimentos de cidadãos, sendo indispensáveis como parte do sistema democrático, deveriam sempre visar esse propósito, contribuindo para esclarecer e mobilizar um voto informado e construtivo, e transformando toda a eleição na etapa inicial de um compromisso permanente com os eleitores. (mais…)

                    Cidades, Coimbra, Democracia, Opinião

                    Coimbra e os álbuns de retratos

                    Nos últimos anos costumo ver, sobretudo nas redes sociais, onde este estado de espírito mais facilmente se revela, a expressão precoce, por parte de muitos alunos da Universidade de Coimbra que frequentam o último ano da sua licenciatura, de declarações inflamadas sobre a «saudade» que já sentem da cidade e da vida que nela real ou ficticiamente levaram. Fazendo-o ainda que aqui contem prosseguir os estudos de pós-graduação. Estão a viver o seu «tempo» – hoje tão curto, por comparação com o dos antigos cursos de quatro ou cinco anos –, e já têm saudade dele. O que é, de certo modo, um contra-senso: agem como se a sua vida se encontrasse em suspenso, pois ainda não é o que será, mas já não é o que foi. Alguns arrastam este estado de espírito ao longo de todo o último ano letivo. (mais…)

                      Apontamentos, Cidades, Coimbra, Olhares

                      Kitsch, democracia e o Dia da Mulher

                      Tbilisi, Georgia. Fot. David Mdzinarishvili/ Reuters

                      Um dos inimigos da democracia é o kitsch. O conceito designa a categoria de objetos ou práticas vulgares, de mau gosto, sem substância para além da sua forma híbrida, que reproduz sem critério referências de uma cultura mais sólida. Para Umberto Eco, é um «meio de afirmação cultural fácil, adotado por um público que se ilude, julgando consumir uma representação original do mundo quando, na verdade, goza apenas de uma imitação secundária da força primária das imagens». Encontra-se associado ao consumo de massas, pois é neste domínio que a propaganda e a manipulação da informação mais facilmente se impõem, reduzindo as possibilidades de escolha do cidadão comum. (mais…)

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                        Da função social do palavrão

                        Fotografia de Epicentre.
                        Last stripe on Earth. Fotografia de Epicentre

                        Nunca fui de usar a torto e a direito a palavra de baixo calão, vulgarmente conhecida por palavrão. E não é por qualquer vestígio de moralismo puritano, que não possuo de todo, ou com medo de pecar por palavras e me ver inexoravelmente destinado ao Purgatório das almas. Faço-o apenas ocasionalmente, quando me zango mesmo com alguma coisa ou quando entalo algum dedo numa porta ou gaveta. Por vezes, também, quando estando sozinho posso dar largas, sem incomodar os outros, à impaciência ou ao desespero. No entanto, como vivo neste mundo e não entre anjos, é claro que passei por períodos em que tive de abrir mão dessa ginástica de contenção, e me vi a «falar como um carroceiro» (já quase não existem carroceiros por estes lados e por isso não estarei a ofender alguém). (mais…)

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                          Em Setembro, de novo

                          Sunlight In The Classroom. Fot. Christian Hawley
                          Sunlight In The Classroom. Fot. Christian Hawley

                          É tão certo quanto a queda das folhas dos plátanos: a meio de Setembro as praxes universitárias regressam à rua e ao debate público. Assanhando ânimos em proclamações de completa recusa ou, mais raramente, de acanhado aplauso. Desta vez, porém, isto acontece com um impacto acrescido. Em parte, devido à posição assumida pelo ministro da Ciência, da Tecnologia e do Ensino Superior, que a transformou em prescrição remetida aos responsáveis dos estabelecimentos do ensino público. Mas também porque a observação da realidade impõe um novo olhar. O tema já cansa um tanto, mas o ruído é tal que, como proclamava o refrão da velha canção, «não podemos ignorá-lo».

                          E porque não? As razões mais aduzidas para justificar o interesse insistem nos abusos que não podem ser ignorados ou permitidos, seja em nome de que «tradição» for. Aliás, embora mais em algumas escolas ou cidades que noutras, as praxes surgem sem alicerce histórico real, são muitas vezes inventadas e reguladas por «comissões» que vivem na sombra, e têm-se afirmado demasiadas vezes como práticas perigosas, conduzidas quase sempre por alguns dos piores alunos das academias e na margem da intimidação ou do crime. (mais…)

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                            Excesso de tradição e diálogo político

                            Nas Aventuras de Tom Sawyer, Mark Twain disse ser «fácil justificar uma tradição, mas muito difícil vermo-nos livres dela», dada a força que pode tomar. O historiador Eric Hobsbawm mostrou em 1983 que as tradições são sempre invenções, mais próximas de um certo imaginário cultural que da realidade da vida. Simplificando a interpretação: aquilo que produz uma tradição e lhe confere essa força não é a reprodução das mesmas práticas, supostamente antigas, através do tempo, mas antes a tendência para repetir uma interpretação conservadora enquanto os factos e os contextos se vão transformando. Por isso, tantas vezes é anacrónica e imobilista.

                            Isto não significa, porém, que funcione apenas como uma prisão, forçando o presente a reproduzir o passado, e que não tenha qualquer valor dentro da vida social. Longe disso. Muitas vezes a tradição pode, no seu sentido verdadeiro – isto é, como a imaginação de uma continuidade cultural forte – cimentar as identidades das nações, dos coletivos, das regiões ou das cidades. Em Coimbra, onde a palavra «tradição» tem um peso muito grande no discurso público, em particular naquele que é veiculado por algumas instituições e por certos setores sociais, bem como pela generalidade da imprensa local, ela desempenha um papel importante, embora complexo e nem sempre consensual, na construção interna e na projeção exterior de uma imagem da cidade. (mais…)

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                              Escola pública, direitos privados

                              Fotografia de Nguyen Phuong Thao
                              Fotografia de Nguyen Phuong Thao

                              A ideia de escola pública nasceu com os debates que precederam e acompanharam a Revolução Francesa. E foi também em França que, sob a iniciativa de Jules Ferry, primeiro-ministro e ministro da Instrução Pública da Terceira República, entre 1880 e 1883 ela foi lançada de forma coerente. Pela primeira vez na história, a educação deixava de ser um privilégio concedido a alguns e tornava-se tendencialmente universal e gratuita, perdendo a dependência das instituições de natureza privada, corporativa ou confessional que lhe diminuíam o alcance e a condicionavam. Para além de republicana, era agora laica e plural, passando a assegurar, como um direito, o acesso a um conhecimento e a uma formação que deveria destinar-se a todos os cidadãos. Ocorreram depois avanços e recuos, consoante as épocas e os lugares, mas a tendência tornou-se irreversível, consolidando-se gradualmente nos regimes democráticos. (mais…)

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                                Queima 72 em Coimbra e no Porto

                                O desaparecimento da Queima das Fitas, tal como o das praxes, materializados em Coimbra com o «luto académico» decretado em 1969, foi um gesto coletivo de coragem e de grande impacto político, até porque se ergueu contra as expectativas de algumas famílias ciosas dos seus meninos doutores e as conveniências de parte do comércio da cidade. No entanto, não caiu do céu e, visto sob a perspetiva do tempo, não pôde deixar de ficar ligado a uma gradual democratização política dos valores em curso dentro das comunidades estudantis universitárias da cidade e do país. A escolha dos estudantes foi o resultado de uma evolução natural e daí o facto de, nos anos que se seguiram, a suspensão de tais práticas não ter sido levantada. (mais…)

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                                  Duas cidades e uma só

                                  Fotografia de Daniel Camacho
                                  Fotografia de Daniel Camacho

                                  De cada vez que se inicia o ano letivo regressa a polémica sobre as praxes. Acontece de forma mais intensa em Coimbra, dada a relação particular da cidade e da sua universidade com esses ritos. Raramente tem algo de estimulante e construtivo, limitando-se quase sempre a uma rude e estéril troca de palavras. Os campos afastam-se abertamente: de um lado, os que se opõem de todo às suas formas, em particular aquelas que têm ganho corpo nos últimos tempos, considerando-as obsoletas e negativas; do outro, os que as defendem de um modo irredutível como fator de inclusão e característica identitária. Entre os dois polos um terreno vasto, povoado pelos que reconhecem as antigas praxes, sem se aperceberem de como nos últimos anos estas mudaram de qualidade, por uma população em larga medida indiferente ou avessa aos seus momentos, e por um país que as olha como para uma encenação que mistura episódios de tragédia e instantes de comédia. (mais…)

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                                    Verão conturbado para o PS

                                    Não sou militante, simpatizante ou sequer eleitor do Partido Socialista. Vejo aliás de um modo muito crítico o processo de progressiva desvitalização política que, durante a maior parte do tempo, o tem caracterizado ao longo das últimas décadas. Um processo vinculado ao abandono dos fundamentos mais essenciais da tradição social-democrata de esquerda, hoje já só formalmente inscritos na sua matriz e invocados como uma flor na lapela. Estes têm sido trocados por uma política estritamente pragmática, feita mais de interesses que de causas, mais preocupada com medidas do que com metas, na qual tantas vezes têm pesado sobretudo a influência pessoal, os grupos de pressão e, a estes ligados, os jogos de bastidores. Desta forma, têm sido recorrentemente remetidas para um plano secundário a dinâmica democrática, que foi fundadora do partido, e a força criadora das convicções e dos projetos de inspiração social. Este panorama não pode ser associado a toda a vida e a todos os militantes do PS, seria injusto e impreciso fazê-lo, mas corresponde à tendência predominante. (mais…)

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