Numa nota de imprensa escrita em 1947 pelo SNI de António Ferro, proclamava-se ser pelo folclore «que um povo reencontra o potencial poético característico da sua raça na sua forma mais cristalina e pura». O regresso em força, aos ecrãs televisivos, aos palcos das praças, aos desfiles alegóricos, às políticas culturais de alguns municípios, do folclorismo mais artificial, das cantadeiras mais aberrantes, do azedo arroto a chouriço, caldo verde e «boa pinga», assusta. Já repararam nele? Na forma como estão de volta o acordeão, os ferrinhos, a pandeireta? Como se insinuam outra vez, mostrando ao povo que o povo existe e, a cantar e a dançar, não deve querer ser senão povo? É provável que este retorno ao passado tenha alguma coisa a ver com uma recuperação da rusticidade – e do kitsch que lhe é frequentemente associado – consubstanciada na presidência saloia que agora se inicia.