A história da Itália – seja ela a da península conquistada pelos romanos, a da grande nação pulverizada durante séculos ou a do Estado ressurgido ao longo de Oitocentos – encontra-se, tal como a história de todos os povos, manchada tanto pelo excesso e pelo crime quanto pelo heroísmo e pela crença. Apesar deste grau de normalidade, a imagem estereotipada que transmite e com a qual envolve os seus naturais, é em regra simpática e positiva. A beleza panorâmica e a da maioria dos seus habitantes – apenas comparável, para um certo padrão de gosto, à da Croácia e à dos croatas – é associada a um património artístico e monumental esmagador, a uma literatura ágil e envolvente, a um cinema eternamente dinâmico, a prodígios de design, ao bom-gosto das roupas e do calçado, à comida e aos vinhos inesquecíveis. Bem como a uma certa bonomia das atitudes que foi até capaz de amaciar a dureza fascista (se a compararmos com a rigidez nazi-alemã), de integrar como parte do folclore os crimes mafiosos, de combinar o catolicismo dominante com a licenciosidade da moral e dos costumes. Os próprios comunistas italianos sempre foram, aliás, comunistas suaves. O sistema político, tradicionalmente moralista, incorporou sem se desmoronar figuras como a pornstar Cicciolina ou o travesti Vladimir. O futebol ganha títulos jogando à defesa, na combinação de uma irritante falta de coragem com souplesse e incríveis golpes de sorte. O «italiano» que imaginamos tem sempre qualquer coisa de capitão Bertorelli, da série Allô! Allô!, falando alto, sorrindo cúmplice, não se levando muito a sério. A «italiana» que concebemos é sempre uma Lollobrigida, morena, esbelta, sensual. Não será pois estranho que, entre tanto estereótipo, seja fácil encaixar o diálogo do anúncio no pobre debate político em curso, com Berlusconi dizendo «mas é a pasta!» e Prodi retorquindo «mas não, é o molho!». Pode ser que de tudo isto irrompa uma manhã qualquer coisa de menos previsível.