A fala de algumas línguas, sobretudo a daquelas que não entendemos, define sempre uma harmonia, uma emoção peculiar, que somos incapazes de representar na nossa própria língua. Ouvi certa vez o palestiniano Abdel Karim Sabawi ditar em árabe um dos seus poemas. Não entendi uma só palavra, mas vi estender-se pelo ar, dois passos à minha frente, uma espiral única de vozes e de inequívocos ritmos. A língua italiana, novilatina e por isso mais próxima, essencialmente calorosa, salienta também esse efeito, sobretudo quando pronunciada num dos seus incompreensíveis dialectos. Mas nada de tão raro quanto o grego falado aos seus ignaros. Simultaneamente indecifrável e materno, próximo e fugidio, parece revelar em poucas palavras a bruma azulada, o cheiro a flores cortadas, um resvalar de risos.