Sugeri aqui, há alguns posts atrás, a leitura de As Identidades Assassinas, do cristão-laico libanês Amin Maalouf. Livro que deveria iluminar, se é que ainda permanece iluminável, a consciência crítica de alguns militantes da esquerda ocidental, capazes de continuarem a considerar o Outro islâmico – provindo de um Islão peculiar, maioritariamente violento e intolerante nas actuais circunstâncias históricas – como integrando uma espécie de comunidade angélica à qual todos os «pecadilhos» devem ser perdoados. Do lado oposto, apenas seres dotados de chifres e patas de bode – os israelitas, claro, todos eles – comandados à distância por um senhor sinistro de barbicha, chapéu alto e sobrecasaca azul. Regresso ao livro para sublinhar, a propósito, uma frase de Maalouf: «Quando atribuímos o papel de cordeiro a uma determinada comunidade e o de lobo a outra, o que fazemos, da nossa parte, é conceder adiantadamente a impunidade aos crimes de uma delas». Visão simplista, unilateral, que será sempre sinal de uma perigosa cegueira. Sobretudo quando, confundidos o rebanho e a alcateia, se torna difícil distinguir as espécies.