A produção de objectos destinados a servirem no quotidiano comum dos antigos «países socialistas» europeus ajuda-nos a entender as origens do seu rápido colapso e da desafectação de um número crescente dos seus cidadãos em relação ao universo no qual eram forçados a habitar. A partir da década de 1950, enquanto no mundo em redor emergiam padrões de vida orientados no sentido de uma renovada concepção estética e funcional da vida, naqueles espaços protegidos economias bloqueadas e sistemas políticos de grande rigidez mantinham-se em constante guarda perante qualquer indício de mudança que ecoasse a partir de um ocidente eternamente diabolizado e inequivocamente «decadente». Crescia assim uma paisagem visual fora do tempo, um mobiliário de todos os dias alheio às tendências da nova cultura-mundo – orientada para o consumo e para o consumismo, sem dúvida – que, fora daquelas «utopias materializadas», ia definindo uma outro realidade no domínio dos padrões de vida, do gosto e do conforto.
Na antiga República Democrática Alemã, esta fórmula de isolamento viu-se ainda integrada na tradição germânica do popularmente chamado «forte e feio». Uma tendência de origem prussiana, acentuada sob o nazismo e que ainda se não encontra totalmente apagada, como o comprova a observação atenta das prateleiras dos hipermercados Lidl ou de um par de sandálias Dr. Scholz. Objectos construídos para funcionarem, mas também para durarem, sem gastos supérfluos nem pormenores «desnecessários», no interior de um universo que, ao mesmo tempo, se presumia exemplar e, pela intervenção de acções sistemáticas de «vigilância revolucionária», isento de qualquer influência provinda do mundo capitalista. Pequenas peças do quotidiano de uma sociedade e de um regime aplicados a combaterem, como havia anunciado Walter Ulbricht em 1950, o chamado «formalismo» (que, nos tempos de Estaline, Andrei Jdanov igualmente procurara extirpar da União Soviética). Em seu lugar – e também ao nível do design introduzido nos cenários de cada dia – a valorização das artes tradicionais e regionais, a fuga insistente a uma visualidade que pudesse anunciar qualquer alternativa aos padrões locais do realismo socialista e de uma suposta «frugalidade proletária», a total exclusão de formas de inovação estética consideradas anormais, substituídas por uma orgia de fealdade e de kitsch. Esse universo doméstico de cartão do qual é possível recolher uma sombra na revisão de Adeus Lenine, de Wolfgang Becker. E que se encontra agora acessível através de DDR Design, um pequeno álbum-choque da Taschen.