Será possível perdoar a Günter Grass por vir agora dizer que na juventude foi membro das SS? Perdoo-lhe por o haver sido aos 17 anos. Mas não por tê-lo escondido de nós durante este tempo todo. Jamais voltarei a ler um livro escrito por Grass antes desta declaração tardia.
PS – Luís Mourão questiona-me sobre o sentido desta posição de normando. De facto, eu também acho que «esta declaração (pode) dar uma espessura maior à dimensão crítica do romancista Grass». Sob este aspecto, quanto mais complexo, por vezes, mais denso, mais embaraçoso, mais interessante. Mas eu comecei a ler Grass – como admito que muitas pessoas ainda o façam – justamente por tomá-lo, de forma singela, por uma voz da consciência alemã anti-nazi do pós-guerra. Sinto-me assim como aquele sujeito que só ao fim de 40 anos de casamento percebeu que a esposa foi levando uma vida sexual dupla. Traído, portanto. Mas pode ser, caro Luís, que o tempo cure a mágoa e me devolva a razão. A ingenuidade, essa já é mais difícil.