O amor em fascículos (3)

r-love
Tenho alguma dificuldade em falar nas aulas do amor romântico. Quando tento revelar, em primeira mão, as quatro características que distinguem esse estado de espírito ocidental e único – o facto de nascer sempre de um encontro fortuito, a impossibilidade de desaparecer por um simples esforço de vontade, o sexo como algo de longínquo e não essencial, a presunção de que aquele estado de plenitude durará «para sempre» – parece-me entrever alguns sorrisos cínicos. Se sugiro a leitura de Os Sofrimentos do Jovem Werther, de Goethe, ou de O Vermelho e o Negro, de Stendhal, sinto cruzarem-se alguns olhares trocistas. E preciso desdobrar-me em explicações. Afinal, o amoroso romântico – sonhador, nostálgico, capaz de ir até ao fim do mundo, ou de morrer, pelo seu amor – é acima de tudo um personagem literário. Paradoxalmente, são muitos daqueles que nada lêem que mais acreditam nele.

    Devaneios.