Num inquérito alargado e plural que envolveu uma amostra de 2851 (perto de 15%) dos alunos da Universidade de Coimbra (*), cerca de 18,3% dos inquiridos revelou jamais ler livros. Destes, 7,3% pertencem às Artes e Letras, 10,9% ao Direito e 13% às Ciências Sociais, áreas que estão num dos extremos da escala. No outro, quase 48% de Desporto e 40% dos alunos das diversas Engenharias afirmaram jamais pegarem em tais objectos. Do conjunto, para cada rapariga que declarou não ler livros, existem três rapazes que nunca o fazem. Partindo do princípio – não provado, mas que me parece admissível – de acordo com o qual muitos dos inquiridos terão, por pudor ou incerteza, entendido que raramente lêem quando de facto nunca lêem, os valores reais poderão ser ainda mais desoladores.
Acredito que o livro em papel se está a transformar, cada vez mais rapidamente, num suporte complementar dos processos de aquisição de informação e conhecimento. Todavia, se por um lado ainda não chegámos ao previsível ponto de não-retorno que consumará a sua redução aos espaços de conservação e arquivo, por outro, parte substancial da informação em rede é ainda parcial e bastante insuficiente. Sendo assim, podemos questionar-nos sobre onde irá buscar a informação da qual precisa para a sua formação a parte desses alunos – e, acrescente-se, 33% deles também declarou que nunca ou raramente lê jornais – que conclui os cursos com formal aproveitamento. Mas o pior de tudo é imaginar o perfil, a sensibilidade e os processos de percepção do mundo desses futuros «doutores» e «engenheiros» que desconhecem os prazeres e os safanões proporcionados pela leitura física do livro.
(*) Inquérito integrado nas iniciativas de um projecto de investigação – da responsabilidade de Elísio Estanque e de mim próprio – do qual em breve serão divulgadas as principais conclusões. Mais alguns dados parciais aqui.