Aço, cristal, ferro. Erguendo-se altiva, perturbante, como um manifesto, sobre a cidade de Pedro. A Torre desenhada pelo arquitecto Vladimir Tatlin – uma grande espiral circundando uma pirâmide, um cone e um cilindro rotativos e concebidos para alojar escritórios e salões – deveria ter representado, em 1919, um signo visível da modernidade soviética. E da actividade de um Comintern que, nesse tempo de socialismo primevo, se propunha ainda unificar «todos os meios disponíveis, inclusive armados, para derrubar a burguesia internacional e estabelecer uma República Soviética internacional como um passo transitório à completa abolição do Estado». Recém-instalada em Petrogrado, a futura Leninegrado, a IIIª Internacional detinha uma missão grandiosa e imprevisível que a Torre, de uma forma assombrosa, deveria projectar junto daqueles que a pudessem observar. Jamais foi construída. Como o não foi também a revolução mundial que então se anunciava aos céus e à terra. Em breve os tempos revelar-se-iam outros, menos propícios para magníficas quimeras.
A Torre de Tatlin
Etc..