A Assembleia Nacional Popular chinesa aprovou, após 14 anos de debates, uma lei que garante idêntica protecção à propriedade privada e à pública. Nada de surpreendente, tendo em conta que a primeira – para Proudhon e Marx, a essência da desigualdade social – passou a ser considerada, desde os tempos de Deng Xiaoping, um instrumento fundamental para o desenvolvimento e uma fonte legítima de enriquecimento individual. O problema é que a política externa da China também se adaptou a uma espécie de realpolitik, tendo desde há muito atirado os sempre obscuros «inalienáveis princípios internacionalistas» para umas quantas notas de rodapé nos livros de história. A dúvida que fica é apenas esta: o que resta então, no «Império do Meio», do socialismo e da utopia comunista? A repressão brutal do pluralismo político e da diversidade cultural em nome do proletariado e do Estado? O sistema penal feroz e inflexível «ao serviço do povo»? A inexistência de sindicatos e de uma comunicação social independente? As coreografias mecanizadas dos desfiles militares e dos espectáculos desportivos? As recepções cerimoniais às delegações dos «partidos irmãos»? Os stands na Festa do Avante? A igualitarização pelo silêncio?