A útil paisagem

Snob, habituei-me desde cedo a desgostar de paisagens compostas e demasiado bonitinhas. Panoramas suíços de folheto turístico, tresandando, como os jardins barrocos, a uma natureza antinaturalista. Propaganda new age, wallpapers cintilantes, landscapes supostamente relaxantes nas paredes de restaurantes chineses ou salas-de-espera de dentistas dos subúrbios. Sempre algures entre a pieguice ultra-romântica e o kitsch pequeno-burguês. Até conhecer hoje, através do Público, aquilo que, se o pudesse fazer, a um cego apeteceria fotografar: «uma paisagem com o mar ao fundo, com o pôr-do-sol a reflectir na água».

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