Na Europa e nos Estados Unidos, onde existe uma menor necessidade política de erguer fictícias grandezas, mas também no mundo islâmico, no qual o próprio conceito de grandeza se mede por diferentes padrões (e o acesso aos grandes media é muito condicionado), a maioria das pessoas pouca ou nenhuma importância atribuiu à «eleição» das 7 Maravilhas do Mundo e a todo o espectáculo mediático e comercial construído à sua volta. Foi, pois, essencialmente do interior dos países cujas autoridades participaram na mobilização da população, manipulando o desconhecimento e o chauvinismo para elegerem a «sua maravilha» e melhorarem artificialmente a autoestima local, que saíram os «eleitos».
A maior prova desta distorção – muitos leitores brasileiros decerto concordarão comigo – está na escolha, patrocinada pelo próprio governo do Brasil, daquele mega-mamarracho de arte religiosa que se dá pelo nome de Cristo Redentor e que, «braços abertos sobre a Guanabara», encima, desfeiando-o, o (ainda assim, e sempre) belo morro do Corcovado. A verdade é que esta obra de engenharia-kitsch não pode de modo algum comparar-se – mesmo entrando na lógica tonta do «maior» e do «menos grande», e falando apenas de construções em pedra – com outros «candidatos» não escolhidos, como o Alhambra, Stonehenge, os templos de Angkor, o Kremlin, a Catedral de São Basílio, as pirâmides de Gizé, as estátuas da ilha de Páscoa, a Acrópole, a Hagia Sofia, ou mesmo a estátua de Liberdade. Com estes, obviamente, não ocorreu uma grande mobilização com recurso aos meios de comunicação de massas, perdendo-se assim a oportunidade de integrarem o novo mito mediático e de ostentarem o qualificativo turístico. Que a UNESCO, aliás, se encarregou já de desvalorizar.
Samba e pandeiro não vão faltar, é o que vale. «Panem et circenses», lembrava o sempre juvenil Juvenal. Uma prática tão antiga quanto contemporânea, mais subtil em alguns locais, mais directa e despudorada noutros.
Das «maravilhas» locais não falo. A minha capacidade de maravilhamento anda um pouco transviada.