Soube por João Tunes, sempre atento aos meandros da agitprop em curso no rectângulo pátrio, que na próxima festa do Avante! – a qual terá como original e actualíssimo tema «90 anos da Revolução de Outubro, a luta dos trabalhadores e dos povos pela Paz, a Democracia, o Progresso e o Socialismo» – diversas iniciativas irão mostrar o valor e o significado da Revolução bolchevique (obviamente extirpada dos milhares de páginas de revisionismo histórico pós-leninista). Uma dessas iniciativas consta de uma apresentação pública da Cantata Outubro, de Sergei Prokofiev.
Não deixa de ser curioso, porém, o facto de Prokofiev ter consabidamente mantido, ao longo de grande parte da sua vida, uma relação de grande ambiguidade em relação ao regime soviético. Comporia, é certo, diversas peças de acordo com os cânones do realismo socialista e do culto de Estaline, a troco de um abrandamento das limitações de que foi alvo logo após o seu regresso à URSS em 1934, mas mesmo assim foi sujeito a constantes pressões pessoais, proibido de viajar para o estrangeiro e acusado, como seria de calcular, de «formalismo e cosmopolitismo». E a sua Cantata pelo Vigésimo Aniversário da Revolução de Outubro – que inclui fragmentos de textos de Marx, Lenine e Estaline, tendo sido produzida na mesma época em que escreveu a Cantata Zdravitsa, dedicada ao camarada secretário-geral do PCUS – é por muitos considerada uma sátira a essa Revolução. A equipa de musical advisers do PCP precisa diversificar as suas fontes de informação.