A jornalista insiste com António Lobo Antunes. Trata-o quase como se tratam os velhinhos. «Comoveu-se» com a recepção que teve em Berlim? E «comoveu-se» com o Prémio Camões? Acontece que, por estes dias, comover-se – ou seja, chorar em público – passou a ser notícia. Uma patologia simpática, que se procura em certos rostos. As câmaras da televisão buscam sedentas as lágrimas nos olhos de Rui Costa, de Cristiano Ronaldo, de Nelson Évora, de Luís Filipe Menezes. Mesmo quando elas custam a sair. Sampaio foi durante algum tempo o nosso chorão de estimação e as câmaras procuravam-no: levou o lenço aos olhos? estava a fungar? a voz embargou-se-lhe? E se sim, que admirável! E que belas, que belas, as lágrimas amargas de Eusébio ou as ardentes dos jogadores da selecção de râguebi! E os duros, não se comovem? Gostamos de imaginar que sim, embora precisemos esperar para obter a prova. Câmaras prontas na direcção de Filipe Scolari, de Vasco Pulido Valente, de Manuela Ferreira Leite, de Valentim Loureiro, de Paulo Portas! E José Sócrates, chorará? Não importa se chora sozinho e com a cabeça entre as pernas, mas sim se o mostra em público. Será apanhado, um dia, e então rejubilaremos. E a Kate McCann, porque não chora baba e ranho, como Elton John quando soube da morte da Diana, que chorava todos os dias?
Neste tempo seduzido pelo divertimento ininterrupto, pelo efémero que já era, pelo sorriso fácil, rápido e fotogénico, comover-se, chorar, torna-se notícia, um luxo, que irrompe no quotidiano previsível daqueles que vendem uma imagem de felicidade. Procura-se nos famosos o instante de abandono, a morte do familiar, a carreira em queda. E fotografam-se-lhes então as lágrimas. As daqueles que as vertem todos os dias, essas nada têm de particularmente interessante. São banais, por vezes um tanto sórdidas, e não importa perder tempo com elas. As de António Lobo Antunes, que todos reconhecemos, essas sim. Queremos vê-las, ou, pelo menos, que ele nos fale um pouco delas. Mas só mesmo um pouco.