Os resultados de um inquérito realizado pela Universidade Livre de Berlim, tendo como universo de respondentes cerca de 5.000 alunos alemães com idades compreendidas entre os 15 e os 17 anos moradores na Renânia do Norte-Vestefália, na Baviera, em Berlim e no Brandeburgo, foram encarados pelo Le Monde com bastante alarme. O diário francês considerou-os inquietantes e um claro sinal das graves lacunas na informação sobre a história recente do seu próprio país que muitos desses jovens possuem.
Perto de 37 por cento deles, por exemplo, considerou que a STASI, o eficientíssimo órgão de segurança e de contra-informação do Estado da ex-RDA – que se autodesignava como «Escudo e Espada do Partido» e integrava milhões de agentes e informadores –, era «um serviço de informações como outro qualquer». 54,4 por cento dos inquiridos não tinha conhecimento do ano de construção do Muro de Berlim nem sabia que este foi erguido por iniciativa do governo comunista alemão. E 40 por cento entendia que o regime democrático no qual actualmente vive não é melhor que a anterior ditadura comunista, valorizando alguns factores de segurança no emprego que esta parecia assegurar.
O singular é que um artigo não-assinado do Avante! («O sonho do socialismo») põe de lado as inquietações do Le Monde e não disfarça a felicidade e o contentamento pela desculpabilização do antigo regime leste-alemão que parece revelar a débil memória histórica dos jovens inquiridos. Fala rancorosamente, e com uma dose notável de ignorância e parcialidade, sobre «a verdadeira história do muro de Berlim e as pesadas responsabilidades das três potências administrativas ocidentais, que impuseram a divisão da Alemanha no pós-guerra contra a vontade da União Soviética»(*), e aponta alegremente para o facto de 32 por cento dos inquiridos não se importarem de regressar a um sistema no qual fosse possível recuperarem as «vantagens daquela sociedade», aceitando «restringir as suas liberdades individuais» para o conseguirem. As frases transcritas em itálico são do Avante!.
(*) Disponível nas livrarias uma investigação sólida escrita num registo invulgar: O Muro de Berlim. 13 de Agosto de 1961 – 9 de Novembro de 1989, de Frederick Taylor (Tinta da China).