«Para mim, todos os justos, bem como todos os heróis, só em França se produziam na perfeição, como os espargos». A asserção de Eça terá sido produzida por volta de 1887, mas oitenta anos e várias gerações depois era ainda a partir das coordenadas da França, e em língua francesa, que muitos portugueses de leituras – dos que se não ajustavam ao «doce viver habitualmente» apetecido pelo eminente saloio do Vimieiro – olhavam o mundo e as suas mutações. É provável até que eu próprio pertença à última geração que aprendeu a dizer táble muito antes de saber pronunciar têible, mas cá me fui adaptando, embora de vez em quando possa deixar fugir le pied pour le chausson. Um pouco como aconteceu com o «Ministro do deserto» e esse repentino jamais que os jornais – onde proliferam licenciados em jornalismo que «não fazem a mínima» sobre quem foi Émile Zola ou Jean-Paul Sartre – verteram sem problema algum para jamé. Apesar de não ser de aceitar a condescendência das chefias de redacção com tal coup de pied no dicionário, temos de admitir que o episódio não passa de um pequeníssimo sintoma do trambolhão da língua e da cultura francesas que se tornou irreversível a partir dos anos 80. E não há Sarkozy, com elas ou sem elas, que lhe possa dar a volta. Quel dommage!