Um bom exemplo do regionalismo no seu pior é-nos dado todos os dias por uma estação de televisão por cabo chamada Porto Canal. Ao acaso do zapping pós-prandial, tenho deparado ali com programas que, com raríssimas excepções, são de uma qualidade realmente deplorável (um bom exemplo é «Por um Canudo», provavelmente o pior programa de apanhados do hemisfério norte). Quase todos eles se esforçam por alimentar o penoso sentimento de inferioridade que muitos cidadãos do Porto experimentam em relação a Lisboa. Há dias, por exemplo, um debate entre quatro comentadores residentes com acentuado sotaque da Cedofeita tentava descodificar, com aparência de seriedade, a razão pela qual «as pessoas de Lisboa chamam habitualmente galegos» aos naturais da cidade (tratamento do qual, devo confessar, jamais tinha ouvido falar até esse momento). Num outro procurava provar-se que sendo «a percentagem» (sic) do rendimento per capita do Porto «metade da de Lisboa» (sic), deveria ser o Estado a restabelecer o equilíbrio. Ora tive hoje outro extraordinário exemplo daquele padrão de provincianismo: apesar de considerar diversas capitais europeias, o boletim meteorológico do Porto Canal apenas fornece previsões de temperatura e de pluviosidade relativos às cidades portuguesas que vão de Viana do Castelo a Aveiro.
Antes que alguém se impaciente desnecessariamente com este post, declaro desde já que gosto muito do Porto, onde aliás já morei por dois períodos. E que vivo numa cidade – que eu considerava do centro do país mas que afinal parece ser do sul – na qual a relação entre media e provincianismo é igualmente forte.