Ao mesmo tempo que na generalidade do território espanhol, como consequência do combate que vem sendo travado à volta da recuperação e da revisão da memória histórica, desaparecem os últimos vestígios da presença de nomes de franquistas e de falangistas na toponímia e na designação de instituições públicas, em Caldas de Reis, província de Pontevedra, Galiza, encontra-se exposta uma polémica estátua-fonte de Francisco Franco Bahamonde – muito clássica, aliás, se não for vista como exercício de pastiche –, que vomita água com a qual os passantes vão matando a sede. Esta não resultou de qualquer homenagem pública, mas antes de uma encomenda municipal para um festival de arte. Levanta, ainda assim, algumas questões interessantes: permitirá ela uma evocação do Caudillo por la Gracia de Dios ou antes a dos espanhóis que o seu regime fez garrotar? irritará os seus partidários e divertirá os seus inimigos? apoiará um momento de subversão da estética oficial do franquismo? produzirá um efeito de sublimação ou de banalização da história recente? ajudará a esquecer ou a lembrar? As respostas serão múltiplas e nem sempre unívocas. No estado actual de perda rápida da memória colectiva e de uma cada vez mais veloz mutabilidade da vida dos signos, tendo porém a olhá-la como algo que emerge como uma peça de mobiliário urbano, ademais efémera, pela qual a maioria dos cidadãos – «ni contentos, ni descontentos», como já o afirmaram alguns – passará sem prestar grande atenção. Como por um trivial recipiente para o lixo público.