Jimmy Walles, um dos fundadores e uma espécie de PDG da Wikipédia, acaba de lançar um apelo, perceptível de cada vez que se acede a uma das 265 versões localizadas da enciclopédia mais lida do mundo, solicitando um donativo voluntário destinado a pagar algum trabalho profissional e a melhorar a tecnologia que suporta esta ferramenta de conhecimento gratuita e aberto a todos (menos nos países que impõem um controlo rígido e alargado da informação, evidentemente). O simples facto deste apelo surgir coloca, diante de nós, a possibilidade de um dia, incapaz de fazer frente aos crescentes custos ou à concorrência de produtos análogos, eventualmente pagos mas de superior fiabilidade, este projecto magnífico poder fechar.
É quando uma hipótese destas se afigura no horizonte que aqueles de nós que vociferamos contra o abuso da Wikipédia como fonte de informação muitas vezes pouco rigorosa, ou mesmo incorrecta, utilizada por um grande número de pessoas como sucedâneo de leituras mais consistentes, completas e razoavelmente imparciais, sentimos como seria quase impossível viver sem ela com a mesma qualidade de vida. É à Wikipédia, de facto, que tantos de nós recorremos, em momentos de pressa, no trabalho ou no lazer, para recuperar aquela informação que nos ajuda quando a memória falha ou a ignorância se mostra. Já dei por mim a usar até a versão para telemóvel, durante uma aula, para relembrar uma data, o título de um livro, o nome de uma cidade ou de um autor, que entretanto me escaparam. Deixando a informação que dou sob reserva, é verdade, mas poucas foram as vezes que precisei depois corrigi-la. Já não sei, de facto, como viveria agora, na pressa dos dias, sem esta maravilhosa engenhoca. Um sentimento que julgo partilhar, aliás, com muitos milhões de pessoas. Por isso talvez devamos ficar atentos aos embaraços de Mr. Walles, o nosso «Pai Natal», 24 sobre 24 horas, em todos os dias do ano.