«Ao mesmo tempo que se luta em defesa do véu islâmico no Ocidente, luta-se contra ele nos países de origem.» Na constatação deste paradoxo se resume o ponto de partida para O Preço do Véu. A guerra do Islão contra as mulheres, o livro militante de Giuliana Sgrena, a jornalista do Il Manifesto que em 2005 foi sequestrada por uma organização islamita iraquiana. A autora identifica rapidamente o objectivo do livro: «trazer à luz uma realidade pouco conhecida e pouco contada: a presença nos países muçulmanos de mulheres (mas também de homens) que se batem pelos seus direitos». Explorando, através do trabalho de reportagem e de diversas entrevistas, a situação das mulheres de países como a Tunísia, a Sérvia, o Iraque, o Irão, a Arábia Saudita, a Bósnia-Herzgovina, a Palestina, o Afeganistão, a Somália ou a Argélia, Sgrena procura mostrar de que forma o uso do véu representa, como símbolo mas sobretudo através do processo de negação objectiva do corpo que a sua imposição envolve, a opressão da mulher no mundo islâmico e o recente reforço de uma ordem acentuadamente masculina, implacável e reaccionária. O silêncio dos activistas ocidentais empenhados em não melindrar uma incerta e complexa «identidade muçulmana» também não sai incólume destas páginas. [Trad. de Alexandre Vaz Pereira, Pedra da Lua, 116 págs. Originalmente na LER de Fevereiro.]