Primeiros anos

O Jovem Estaline

No novo volume da sua biografia de Estaline, Simon Sebag Montefiore recua no tempo para narrar a infância e a juventude do ditador desde os primeiros tempos em Gori, na Geórgia, até à intervenção destacada na tomada do poder pelos bolcheviques, percorrendo o envolvimento revolucionário que o levou a uma sucessão de prisões e de exílios, sempre razoavelmente benévolos, impostos pelo regime czarista. A abordagem proposta em O Jovem Estaline põe de parte as velhas hagiografias oficiais, que depuraram algumas das manchas de uma juventude violenta, criminosa e obscura, e recorre a documentos disponibilizados apenas a partir de 1991, o que permite construir uma narrativa detalhada, cheia de novidade e por vezes aliciante. Segue, porém, alguns caminhos que lhe reduzem o valor: desde logo um excesso de «psicologismo» adiantando afirmações sobre a construção da personalidade megalómana e psicopata de Estaline que aqui não passam de hipóteses; depois, uma fixação excessiva na descrição de episódios rocambolescos, alguns deles envolvendo o lado mulherengo do georgiano, que poderiam servir um argumento de comédia mas desviam a atenção da fundamentação interpretativa; e, por fim, a construção de um retrato íntimo através de estratégias, próprias das utilizadas nas biografias ficcionadas, que uma obra de natureza assumidamente historiográfica deve usar com parcimónia. [Trad. de Victor Antunes, Manuela Novais Santos e Maria José Figueiredo. Alêtheia, 512 págs. Originalmente na LER de Fevereiro.]

    História.