Só Deus sabe como aprecio durante 60 minutos em cada ano a música do Conjunto Diapasão (em particular a voz de veludo martelado do vocalista Marante), como abomino música sertaneja (os empregados do Gauchão também conhecem este ódio pessoal) e como experimento sentimentos assassinos quando sou forçado a ouvir a vozearia ululante acompanhada de ferrinhos e acordeão que o Estado Novo nos doou como «folclore do bom». Mas ouvir tudo isso em sistema random, a partir de colunas potentíssimas e mais altas que o Pau Gasol instaladas no hipocentro da universidade mais antiga do país, ao mesmo tempo me esforço até ao limite por conseguir dar uma aula debaixo de tal barragem de som, é experiência que tem qualquer coisa de transcendental. Aconteceu ontem à tarde e acabei a aula a falar da grande Maria do Carmo Miranda da Cunha, mais conhecida como Carmen Miranda.