No dia Primeiro de Abril de 1939, perfazem-se hoje setenta anos, terminou a Guerra Civil de Espanha. Singularmente violenta e persistentemente traumática, causou mais de 600.000 vítimas civis e militares caídas de ambos os lados, tendo servido de palco para um número ainda indeterminado de atrocidades. Viveu os primeiros bombardeamentos aéreos sistemáticos sobre populações civis efectuados por aviação fornecida pela Alemanha nazi e pela Itália fascista; assistiu à eliminação metódica de um grande número de militantes do POUM, a organização comunista antiestalinista, por parte de agentes da polícia política soviética lançados no terreno; e coabitou com execuções sumárias de suspeitos, em regra membros do clero ou pessoas das classes média e alta, consumadas por anarquistas e comunistas. Ao mesmo tempo, os nacionalistas faziam assentar o seu avanço militar, e o poder no terreno que a partir dele iam exercendo, sobre a chacina, o terror e depurações sistemáticas, prolongadas por muitos anos após o termo dos combates.
Para além da preservação da dimensão lendária desta guerra, em boa parte justificada pela forte mobilização da opinião pública ocidental que provocou e pelo empenho nas fileiras das Brigadas Internacionais de um grande número de artistas e intelectuais antifascistas, a sua memória é presentemente objecto de um combate colectivo que visa libertar do silêncio a recordação dos actos de brutalidade praticados pelos franquistas. Alterando a narrativa parcial e artificialmente benigna que estes produziram a propósito das condições em que chegaram ao poder e sobre a forma como o mantiveram. E procurando promover a reconciliação com o seu próprio passado da metade da Espanha que ao longo de décadas permaneceu calada.
Adenda: os Caminhos da Memória referem aqui um conjunto de seis vídeos sobre as circunstâncias e o decurso da guerra, enquanto o El País e o Público.es têm vindo a publicar excelentes artigos sobre o tema.