Dois apontamentos sobre cartazes

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1. Um passeio neste feriado fez-me passar diversas vezes pelos enormes cartazes de Vital Moreira e de Manuela Ferreira Leite com os quais os maiores partidos nacionais têm vindo a desfear as rotundas de vilas e cidades, não perdendo uma oportunidade para acabrunharem ainda mais os portugueses. Sem impacto político real ou aptidão para evocarem propostas. A frase «Nós, Europeus» colada ao candidato Moreira, por exemplo, é em 2009, no mínimo, um sinal patético de falta de imaginação e indigência política, reminiscência de um «A Europa Connosco» com mais de trinta anos. Os cartazes do PS e do PSD são péssimos, horríveis, representando de forma caricata ou soturna as figuras que nos pretendem propor, incapazes de transmitirem ao cidadão comum uma impressão de calor ou de proximidade. Chego depois a casa e observo imagens dos cartazes da Esquerda Verde, segunda classificada nas eleições que decorreram na Islândia. Percebo ali uma outra cultura política, um outro cuidado com uma abordagem visual, assumidamente estetizada e menos poluente, com capacidade simpática, das pessoas que andam pelas ruas e as observam.

2. Desde o episódio do «porreiro, pá» entre Sócrates e Barroso que me incomoda o uso da frase casual, de alguma forma íntima e apenas revelada por um microfone inadvertidamente ligado, como instrumento de arremesso contra ambos. Independentemente das considerações que se podem fazer sobre as atitudes políticas de um e do outro, esse momento cristalizou, aos meus olhos – e provavelmente aos olhos de muitas pessoas – um grau de humanização e de informalização do relacionamento interpessoal que é uma conquista de Abril e que, na sua dimensão democrática, realmente me agrada. Sem exagero. Não posso, por isso, deixar de lamentar a utilização daquela frase pelo Bloco de Esquerda, em outdoors de pré-campanha, como arma de arremesso. E tenho a certeza de que a «mensagem» resulta absolutamente ineficaz, se não mesmo contraproducente em termos de comunicação pública. A construção de uma cidadania mais perfeita não passa, ou não deve passar, pelo achincalhamento pessoal de quem quer que seja. É feio e não vale.

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