Johnny Depp será José Doroteo Arango, Pancho Villa, no próximo filme de Emir Kusturica, que tem como título provisório Seven Friends of Pancho Villa and a Woman With Six Fingers e começará a ser rodado em 2010. Terá a companhia preciosa da mexicana Salma Hayek. Promete, claro. Mas já em 2003 Antonio Banderas foi Villa em Starring Pancho Villa As Himself, um documentário sobre a forma como D.W. Griffith e Harry Aitken compraram ao próprio Villa os direitos exclusivos sobre as imagens das batalhas da revolução mexicana, permitindo-lhes montar em 1914 The Life of General Villa, o primeiro filme de acção de Hollywood. A dimensão densamente cénica e cinematográfica das acções e da própria presença física de Villa pode ser avaliada numa descrição deixada por John Reed em México Insurrecto. Aqui fica ela:
Num dos extremos do Salão de Audiências, alinhados solenemente, estavam os oficiais de artilharia, com os seus elegantes uniformes azuis, guarnecidos de veludo escuro e dourado, com reluzentes espadas novas e bonés bordados, rigidamente entalados debaixo dos braços. Desde a porta daquele salão, em torno da galeria e ao longo da escadaria monumental, através do grandioso pátio interior do palácio e até mesmo fora, passando pelas imponentes portadas que davam para a rua, viam-se alinhados, de pé firme e em dupla fileira, todos os soldados, na posição de apresentar armas. Agrupadas como uma cunha entre a multidão, havia quatro bandas de música regimentais. O povo da capital estava firmemente representado por milhares de pessoas concentradas na praça de armas, defronte do palácio.
– Já vem aí! Viva Villa! Viva Madero! Villa, o amigo dos pobres!
Ouviu-se uma vozearia que vinha detrás da multidão e se estendia como uma avalanche num ritmo crescente até que se viram levantar milhares de chapéus por cima das cabeças. A banda começou a tocar o hino nacional mexicano, enquanto Villa chegava a pé, vindo pela rua que dava acesso ao palácio.
Envergava um velho uniforme de caqui, muito simples, em que faltavam vários botões. Não se tinha barbeado, não trazia chapéu e os cabelos estavam em desalinho. Caminhava em passo ligeiro, um pouco curvado, com as mãos metidas nos bolsos das calças. Ao entrar no corredor, por entre as rígidas filas de soldados, pareceu um tanto desconcertado, sorridente e saudava um homem aqui, outro além, enquanto percorria todas as fileiras. O governador Chao e o secretário do governo, Terrazas, em uniforme de gala, juntaram-se a Villa perto da grande escadaria. A banda tocou sem restrições e, quando Villa ia a entrar no Salão de Audiências, a um sinal de alguém que estava na varanda do palácio, a enorme multidão congregada na praça de armas levantou os chapéus no ar, enquanto os brilhantes oficiais agrupados no recinto os saudavam muito cerimoniosos. Foi uma apoteose napoleónica!
Villa titubeou por momentos, cofiando o bigode e, segundo parecia, mostrava-se um tanto contrariado; finalmente, encaminhou-se para a tribuna, sacudiu os braços do cadeirão, e sentou-se.
[Trad. de Serafim Ferreira]
