Aos 94 anos, morreu ontem o músico Les Paul, inventor da guitarra eléctrica e também um dos seus mais importantes fabricantes. Sem a iniciativa que tomou em 1941, quando pela primeira vez juntou um amplificador a uma guitarra de madeira, o mundo não seria aquele que conhecemos nos últimos sessenta anos. Em Rock’n’Roll Jews, Michael Billig lembra como o tom estridente da guitarra eléctrica, produzido a um ritmo intenso, rápido e sincopado, capaz de efeitos acústicos inusitados, passou a soar «de uma forma completamente diferente de qualquer coisa que a anterior geração tivesse ouvido». Enquanto aqueles que tinham atravessado os anos difíceis da Grande Depressão e da Segunda Guerra Mundial preferiam ainda a música amena e romântica dos crooners, que induzia estados melancólicos e de acalmia, da uma natureza basicamente conformista, muitos dos seus filhos, crescendo em tempos de maior segurança e de expansão económica, mas também de recusa de uma perspectiva auto-satisfeita do mundo que herdaram, escolheram a sonoridade inesperada e rude, associada a um novo hedonismo e a novos modos de vida, que o jazz pós-bebop e sobretudo o rock and roll passaram a oferecer. Recorrendo à invenção de Paul. Aquele senhor que ainda há poucos meses continuava a tocar regularmente no Iridium Jazz Club de Nova Iorque.