O tom cordato do qual se serviram Francisco Louçã e Jerónimo de Sousa no aborrecido pseudo-debate televisivo desta noite pode funcionar objectivamente como um embuste lançado sobre um sector do eleitorado, situado à esquerda e em clara ruptura com o PS, que de forma genuína hesita sobre em quem votar. Jerónimo surpreendeu um pouco mais, dadas as arremetidas anti-bloquistas antes adoptadas pelo PCP, uma vez que Louçã apenas manteve o habitual registo, sistematicamente assumido pelo Bloco, de contornar jovialmente este tipo de confronto. Ambos deram tacitamente a entender que as divergências serão pouco relevantes. Mas não são: os dois partidos têm agendas muito diferentes, uma cultura política hoje bem distinta, divergem bastante em áreas como as finanças ou as questões internacionais, e projectam expectativas separadas no que diz respeito a uma eventual participação em soluções de governo. Os cidadãos que desejarem conhecer quais as discordâncias têm por isso todo o direito a ser esclarecidos. Até para que Bloco e PCP não abonem as razões de quem anda por aí a sugerir que o medicamento é o mesmo e só as embalagens dão uma ideia do contrário.
[Uma descrição mais detalhada da pacífica conversa é feita neste post de Pedro Correia.]