Uma verdade repugnante

Ahmadinejad

O negacionismo histórico incorpora, como todos sabemos, diferentes perversões. Passa pela suavização ou pelo apagamento dos crimes em massa praticados no Gulag soviético e nas suas réplicas chinesa ou norte-coreana, pela contestação do Holodomor que em 1932-1933 varreu milhões de ucranianos, pela recusa da dimensão apocalíptica do genocídio arménio, pela limpeza da memória dos fuzilamentos indiscriminados de La Habana ou de Luanda, pela rasura dos terríveis crimes de guerra cometidos pelo Japão, pelo afastamento dos livros de história e das evocações do passado de iniquidades do colonialismo. Porém, porque toca mais profundamente os fundamentos democráticos da cultura europeia e a experiência em segunda mão que ainda podemos ter, a negação do Holocausto é-nos particularmente repugnante. Crescemos todos com o rastro fotográfico e literário da memória dos campos, reconhecendo o espectro sombrio do portão de Auschwitz, vendo e revendo na televisão documentários sobre os longos comboios da morte, lendo Noite ou Se Isto é um Homem, Wiesel e Levi. Por isso se nos tornam insuportáveis afirmações como as de Ahmadinejad, repetindo que se trata de «uma mentira baseada numa história mítica e impossível de provar». Quando no próximo 1º de Outubro o presidente não-eleito iraniano discursar na Assembleia-Geral das Nações Unidas, veremos como reage a estas palavras – e às provocações políticas do Irão – a habitualmente pusilâmine diplomacia europeia.

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