Arquivos Mensais: Setembro 2009

Os sapatos e a queda

Tisza Cipo

Uma das causas do descontentamento popular que fez ruir as experiências europeias do «socialismo real» teve provavelmente a ver com os ditames da indústria nacionalizada do calçado e com os escassos modelos impostos aos cidadãos. Afinal quem não desejaria alterar o estado das coisas?

Na imagem, uns sapatos Tisza Cipő fabricados em Martfű, na Hungria. Uma marca extremamente popular até aos anos oitenta, pois era a única disponível no mercado.

    Devaneios, Memória, Olhares

    Na primeira pessoa

    Vasco Lourenço

    A história do 25 de Abril far-se-á sempre recorrendo aos depoimentos daqueles que participaram na sua preparação e que tiveram depois um papel interveniente nas sucessivas peripécias do «biénio revolucionário». Como todo o acontecimento da história recente, que conclama uma memória quente e os sentimentos ainda muito fortes de quem nela participou, os testemunhos dos seus artífices são sempre únicos e frequentes vezes polémicos. É o que acontece também com a longa entrevista de Maria Manuela Cruzeiro – efectuada entre 1992 e 1995 mas só agora publicada – ao coronel Vasco Lourenço, uma das mais relevantes e decisivas figuras do Movimento das Forças Armadas e do «Grupo dos Nove».

    Aquilo que este conta é irrepetível, proposto a partir de uma perspectiva intensamente pessoal, inevitavelmente vinculada ao papel central e decisório que desempenhou em numerosos momentos que antecederam e seguiram a «revolução dos cravos». Mas é também polémico, pois contraria frequentes vezes, com grande frontalidade e uma aparente jactância, tanto o testemunho de outros actores do movimento, quase sempre bem identificados, quanto determinadas «versões oficiais» cuja veracidade por vezes contesta ou procura corrigir. Os historiadores do período deverão cruzar as diferentes leituras com as suas circunstâncias, mas esta entrevista de Vasco Lourenço será, sem dúvida, uma das referências a colocar na linha da frente do seu trabalho. [Vasco Lourenço – Do interior da Revolução. Entrevista de Maria Manuela Cruzeiro. Âncora Editora, 576 págs.]

      História, Memória

      Acto de contrição

      Delicado

      De acordo com as palavras do engenheiro Sócrates em variante soft da entrevista de hoje à RTP, «talvez não tivesse havido da nossa parte a suficiente delicadeza na nossa relação com os professores». Demonstrar arrependimento, convenhamos, é sempre uma atitude meritória. Principalmente em campanha. E fazer o pino também. Ficamos à espera.

      P.S. – Já depois deste post escrito, a ministra da Educação não fez o pino, mas rastejou, admitindo agora, já com o Juízo Final em andamento, «que existiram problemas de comunicação entre Governo e professores nos últimos quatro anos». É por estas e por outras idênticas que tantas pessoas honestas cospem para o chão e se benzem quando tal espécie de gente lhes passa por perto.

        Apontamentos, Atualidade

        República em linha

        República

        Foi no República, no distante ano de setenta e um (seguindo o calendário gregoriano, naturalmente), que pela primeira vez publiquei alguma coisa fora do circuito escolar juvenil ou do alcance de tiro da imprensa regional. Gostei pois de saber que a Hemeroteca Municipal de Lisboa começou a disponibilizar em linha a colecção de exemplares que possui do histórico diário republicano. Já acessível o ano de 1956.

          Memória, Novidades

          Há precisamente setenta anos

          Polónia 1939
          Soldados alemães guardam um grupo de judeus em Sanok, Polónia (Setembro de 1939)

          «Quem foi a primeira vítima de uma guerra que viria a fazer mais de quarenta milhões delas? Um prisioneiro desconhecido de um dos campos de concetração de Adolf Hitler, com toda a probabilidade um criminoso de direito comum. Numa tentativa para apresentar a Alemanha como vítima inocente de uma agressão polaca, vestiram-lhe um uniforme polaco, levaram-no para a cidade fronteiriça alemã de Gleiwitz, e a Gestapo abateu-o na noite de 31 de Agosto de 1939, na estranha encenação de um «assalto polaco» à estação de rádio local. Na manhã seguinte, quando as tropas alemãs começaram a entrar na Polónia, Hitler apresentou, como um dos motivos que justificavam a invasão, “o ataque ao retransmissor de Gleiwitz por tropas regulares polacas”.»

          (in Martin Gilbert, A Segunda Guerra Mundial, editado pela Dom Quixote)

          O resto da história é conhecida. Ou melhor, vai sendo conhecida.

            Apontamentos, História

            O fatela de Tripoli

            al-Khaddafi

            Grande festa em Tripoli neste 1º de Setembro para comemorar 40 anos de Muammar Abu Minyar al-Khaddafi à frente da Jamahiriya Líbia. O destacado predador da liberdade de imprensa, déspota responsável por atentados sistemáticos contra os direitos humanos, ex-terrorista e antigo paladino do extinto «socialismo árabe», mas com dinheiro suficiente para comprar cumplicidades por todo o planeta, não consegue, no entanto, fugir à suprema ignomínia: o ter sido designado pela revista Time como um dos líderes mundiais mais mal vestidos da actualidade (embora, reconheça-se, a seguir a Kim Jong-Il e a Vladimir Putin).

              Apontamentos, Democracia