Num número recente da revista barcelonesa Clío, o historiador Xavier Casals escreve sobre o paladar dos ditadores. Como seria de esperar, a maior parte deles detestava comer ou então comia sem critério. Hitler era vegetariano e adepto de refeições frugais, não abrindo excepções nem para a última, engolida no bunker de Berlim e composta apenas por esparguete. Mussolini gostava um pouco mais da boa mesa, mas a débil saúde gástrica afastava-o dos excessos. Franco comentava muitas vezes, como se de qualidade se tratasse, que não tinha grande paladar, comia qualquer coisa, mas muito pouco e sem prazer. Salazar era também muito austero à mesa, preferindo os pratos simples vindos da infância beirã. Já Estaline gostava de beber, embora ingerisse sólidos sempre em pequenas quantidades e sem aparente prazer. Kruchtchev, foi a excepção, como se percebe rapidamente pela iconografia dos seus anos de poder, e Mao um caso particular, uma vez que se esforçava por parecer moderado em público enquanto em privado comia vorazmente. O autor do artigo não conseguiu, porém, obter informação fidedigna sobre a dieta seguida por Fidel Castro antes de adoecer, embora tenha conseguido saber que este consumiu ao longo de muitos anos uma bebida energética a que chamava a sua «fórmula tsunami». O amigo Hugo Chávez, com a propensão que se lhe reconhece para falar sempre um pouco mais do que devia, descreveu-a em 2007 como sendo «uma fórmula que tem Fidel para enfrentar o imperialismo e a agressão», composta por uma papa feita «de 50% de trigo, 20% de aveia e 30% de centeio» misturados com um pouco de água ou leite. Poder absoluto e qualidade de vida não são, pois, aspectos que pareçam combinar lá muito bem. Os prazeres da mesa amolecem e um ser providencial não pode amolecer sem prejudicar a sua missão terrena.