Já tinha reparado na notícia do 24 horas sobre o código de conduta preparado pelo director da informação da RTP para regulamentar a utilização individual dos blogues e das redes sociais da Internet pelos jornalistas da estação. Sinceramente, pensei que se trataria apenas de mais uma daquelas invenções, especulações ou não-notícias que habitualmente preenchem a primeira página do diário sensacionalista. Mas um post de Pedro Correia mostrou que eu estava enganado: José Alberto Carvalho pretende mesmo que, na vida privada de cada um, os jornalistas que dirige em regime de ordem unida deixem de ter opinião pessoal audível e zelem por uma imagem pública que deve adequar-se, sem mácula ou divergência, sem humor ou poesia, à da empresa na qual trabalham. Copio directamente do Delito de Opinião:
– «Nada do que fazemos no Twitter, Facebook ou Blogues (seja em posts originais ou em comentários a post de outrem) deve colocar em causa a imparcialidade que nos é devida e reconhecida enquanto jornalistas.»
– «(…) Deverão deixar em branco a secção de perfil de Facebook ou outros equivalentes, sobre as preferências políticas dos utilizadores.»
– «Ter particular atenção aos ‘amigos’ friends do Facebook e ponderar que também através deste dado, se pode inferir sobre a imparcialidade ou não de um jornalista sobre determinadas áreas.»
– «Meditar sobre o facto de 140 caracteres de um twit poderem ser entendidos de forma mais deficiente (e geralmente é isso que acontece!) do que um texto de várias páginas, o que dificulta a exacta explicação daquilo que cada um pretende verdadeiramente dizer.»
Se isto for tomado à letra e aplicado abrirá um perigoso precedente, e em breve outros diligentes funcionários superiores convertidos em manajeiros decidirão aquilo que um funcionário público, um polícia, um bancário, um professor, um padre, um médico, um juiz, um militar, um fiscal da ASAE, um futebolista da selecção ou qualquer outro profissional com «dever de imparcialidade», convertido à força em cidadão irresponsável e sem direito a pensar pela sua cabeça, deve ou não dizer de cada vez que, a cada manhã, abandone os lençóis, saia à rua – ou ligue o computador – e abra a boca para falar com alguém que não seja da família.