Ao contrário daquilo que aconteceu há dez anos, ninguém parece agora preocupar-se muito com o facto de a segunda década do século XXI se estrear esta noite. Entretanto alguma coisa mudou neste país, mas nem sempre a mudança foi para melhor. Um dado parece certo: a maioria das pessoas compreendeu já que o cômputo dos anos – como os conta-quilómetros, os cronómetros, os taxímetros, os termómetros ou os meses dos bebés – parte realmente do zero e não do um. É um progresso, e nele alguma quota-parte terá, há que reconhecê-lo, o resplendor de modernidade high-tech insuflado pela maioria absoluta dos últimos anos.
A passagem do ano trará consigo novas conquistas sociais imediatamente perceptíveis, como a entrada em funcionamento em Setúbal de milícias populares compostas por maiores de 65 anos pagos a 2,60 euros à hora e destinadas a perseguir os grafiteiros, ou a espectacular extensão do limite máximo para o uso do Cartão Jovem, que é transferido dos 25 para os 30 anos e «passará inclusive pela mudança do antigo logótipo para um novo». Mas é de temer que os mal-intencionados e os derrotistas atribuam fraca importância a tais medidas, preferindo insistir em temas negativos, como a corrupção, o desemprego ou a redução real dos direitos dos trabalhadores. Para estes e para outros, pessoas positivas, combativas ou cépticas que por aqui passam – aos indiferentes nada desejo, respeitando a sua indiferença –, os votos autênticos de um feliz 2010. E, se possível, sem a fantasia de antecipar desde já um duplo plano quinquenal, a vontade sentida de uma segunda década melhor do que esta. Para todos.