No Diário Volúvel, Enrique Vila-Matas fala da voz de Van Morrison como voz que lhe pareceu sempre representar «a humanidade inteira». Cada um de nós, em certos dias, em determinados momentos, encontra de vez em quando uma voz assim. Que chega de parte incerta e nos segreda ao ouvido o momento límpido no qual todas as coisas, todos os tempos, todas as forças e vozes, parecem convergir. Só que apenas nós o percebemos, e, por isso, esse fragmento de humanidade fica por nossa conta, como um segredo impossível de transmitir. Como uma jóia rara, translúcida e sem peso, impossível de partilhar, que tocamos por cinco minutos e mais ninguém vê, mais ninguém ouve.