Do estado a que isto chegou

GAC

Fui dos que trautearam, cantarolaram, tamborilaram, os álbuns do GAC (Grupo de Acção Cultural). Em 1975-1976, na época da primitiva edição dos dois primeiros álbuns, com José Mário Branco a adestrar os arranjos – e já como GAC-Vozes na Luta –, a sua música manteve-se como uma excepção de elevada qualidade no que respeitava às harmonias, à escolha das vozes e dos músicos, ao trabalho de estúdio, sobretudo se comparada com uma «canção de intervenção» que quase sempre privilegiava a «mensagem» e a redução jdanovista do gosto do público destinatário ao menor denominador comum. Foi popular, sim, mas sem se tornar populista ou armar-se em popularucha. Os dois últimos álbuns perderam alguma da frescura inicial, mas guardaram ainda boa parte do cuidado com o feitio e com a intenção militante. A reedição em CD da discografia do grupo, que acaba de acontecer, vem comprovar essa originalidade e essa pujança. Significativo também é que as letras – laboriosamente panfletárias e inequivocamente anticapitalistas – pouco envelheceram. O que é um bom indicador do estado a que isto chegou. E de que a cantiga ainda pode ser uma arma.

    Atualidade, Memória, Música.