Considero a visita do papa Ratzinger como a do Dalai Lama: ambos têm todo o direito a fazer turismo religioso, a encontrarem-se com os seus à sombra de uma azinheira, a pregarem a fé que move as suas vidas e lhes faculta o ganha-pão. O servilismo do Estado é que me dá cabo da paciência, sobretudo quando vejo os responsáveis por uma republica laica, muitos deles declaradamente não-católicos, a persignarem-se e a fazerem a genuflexão com a maior desfaçatez. Fica-lhes bem mostrarem-se corteses para com as visitas, beberem com elas um cálice de Porto, oferecerem-lhes até um CD da Kátia Guerreiro ou do padre Borga. Já lhes fica muito mal mostrarem-se tão servis, exibindo sem pudor essa ausência florentina de convicções que é própria da realpolitik à maneira do século XXI.