Dizer-se, como acaba de dizer José Sócrates, que se apoia «o Manuel Alegre» – repare-se que aqui não houve «camarada», «companheiro» ou sequer «dr.», como aconteceu noutras ocasiões – porque com ele se partilha um valor comum, «o do progressismo», é bizarro e é curto. Bizarro pois esse é um conceito varrido desde há muito do vocabulário político contemporâneo. Herdado da velha filosofia das Luzes, que pretendia dotar a História de um trajecto «progressivo», linear e cumulativo em termos de conhecimento e de felicidade terrena, ele foi de tal forma usado e abusado ao longo de mais de dois séculos – particularmente pelos positivistas republicanos de Oitocentos – que se tornou, nos programas políticos de várias esquerdas, ou nas metanarrativas a elas associadas, em claro indício da mais completa vacuidade. Os últimos a utilizá-lo com frequência, os partidos comunistas, têm continuado a servir-se do termo para se referirem àqueles partidos, diferentes movimentos ou proeminentes cidadãos que com eles possam colaborar, como «progressistas» companheiros de jornada, numa dada etapa do combate político que lhes importa. Mas o qualificativo do qual se serviu Sócrates é também curto, pois não servirá para convencer quem quer que seja – a começar pelos militantes socialistas impressionados por longos anos de minimização interna das atitudes cívicas de Alegre – a sair da apatia e a votar neste para presidente da República. É preciso bem mais para convencer e para mobilizar o povo. Se for essa realmente a intenção, evidentemente.