Ia falar a propósito disto. Eis senão quando isto me tirou as palavras da boca. Convém pois não confundir representação com apologia. E não podem existir passados-tabú. Devemos sempre, sem dúvida, permanecer atentos aos processos de branqueamento de Oliveira Salazar e do salazarismo, mas o Estado Novo aconteceu e a sua evocação não pode nem deve permanecer circunscrita aos estudos históricos, aos congressos académicos e à memória selectiva daqueles que perseguiu. Isso sim, pode fazer crer às gerações mais recentes que «o fascismo nunca existiu», que não passa de uma fábula às voltas nas cabeças de uns quantos. Digo-o eu, que já cantei diariamente o Hino dos Lusitos – «Somos pequenos lusitos / mas já firmes e leais / amamos e respeitamos / nossos chefes, nossos pais» – e desenhei casinhas modestas e lindos campos de flores com lápis Viarco. Sem grandes danos colaterais, julgo.