Andam aí

Panopticon

Está em preparação legislação europeia destinada a vigiar e a combater os cidadãos suspeitos de manterem «opiniões radicais». Nesta intenção se englobam as pessoas organizadas em grupos de «extrema-esquerda ou extrema-direita, nacionalistas, religiosos o antiglobalização», em particular os «apoiados em ideologias fundadas no recurso à violência». A estratégia de prevenção do terrorismo na Europa, inicialmente concebida para fazer frente ao perigo real imposto pelas organizações islamitas mais intransigentes, é assim alargada de um modo discricionário, passando a aplicar-se a cidadãos e a sectores com posições políticas muito diferentes entre si, identificados na documentação preparatória de forma vaga e insuficiente. Ou mesmo a pessoas isoladas, uma vez que se recomenda a vigilância individual e a investigação dos sentimentos de pessoas «culpadas» de militarem em «grupos suspeitos» ou de, muito simplesmente, se darem com pessoas a eles ligadas. Isto significa que está em curso a oranização de processos repressivos destinados a espiar e a punir de uma forma sistemática todos os que defendam uma alternativa política não-reformista. Concebe-se um antídoto contra o radicalismo, justamente quando a crise geral do capitalismo e o crescimento das bolsas de pobreza alargam o número dos descontentes. Tomam-se medidas preventivas destinadas a matar à nascença, sem atender aos seus contornos, o combate por um outro mundo possível. A escola do barão de Haussmann, que depois dos acontecimentos revolucionários de 1848 procurou impedir através da reorganização urbanística da cidade a manutenção de uma Paris favorável à revolta, ao levantamento de barricadas e ao confronto das classes, conserva os seus discípulos.

    Atualidade, Democracia, Olhares.