Acaba de sair por cá o número de Julho-Agosto da revista literária Books (estranho nome este para revista francesa, sinal definitivo de mudança). Domina-o um dossiê, «Le pouvoir de la musique», no qual se enunciam e debatem muitos dos problemas relacionados com a dimensão social e política da produção e dos consumos musicais. Recorda-se, por exemplo, que de Goebbels e Jdanov a Khomeini e aos talibãs, «o poder da música não deixou de preocupar os arautos do Estado totalitário», cujo coração balançou sempre entre o controlo e a interdição. Refere-se a propósito aquilo que Goebbels escreveu numa carta dirigida a Wilhelm Furtwängler, então maestro-titular da Orquestra Filarmónica de Berlim: «A música deve preservar a sua forma original e nenhuma inovação pode ser admitida, uma vez que ela transporta sempre consigo grandes perigos para o Estado. Sempre que as formas musicais se alteram, as leis fundamentais do Estado mudam também». Descreve-se também de que forma o estalinismo se serviu das obras de Prokofiev e de Chostakovitch para ao mesmo tempo as condicionar, ou como foi a rumba «domesticada» em Cuba pelo castrismo. Fala-se do modo como a música serviu para humanizar um pouco a vida e a morte em alguns dos campos de concentração nazis. Viaja-se até às origens do reggae e do seu potencial subversivo, esclarecendo-se ao mesmo tempo de que maneira o disco-sound serviu na década de1970 a afirmação da identidade gay e como, em menos de vinte anos, o hip-hop passou de cultura de rua a modalidade de contracultura e depois a instrumento do capitalismo global. Mas há ainda bastante mais, em dezenas de artigos nos quais por vezes se abre espaço à controvérsia.