Como a larga maioria dos portugueses, pouco andei de barco ou em meios de locomoção afins. Mesmo os trajectos africanos foram percorridos de avião. Recordo-me de umas quantas remadelas em lagos artificiais ou modestos riachos, de duas viagens de cacilheiro e de uma travessia do estreito de Gibraltar. Também andei algumas vezes de «gaivota». Ou melhor, pedalei com força para deslocar o veículo. Muito mais do que isso só a bordo do Kon-Tiki de Thor Heyerdahl, do Calypso de Jacques Cousteau, do Relâmpago do Corsário Negro e no paquete onde se desenrolou aquele enredo «anarquista» – que valeu uma proibição em diversos países – de Monkey Business, o filme dos Irmãos Marx. Para além, claro, de ter ido por diversas vezes ao fundo com o Titanic. Isto é, apenas andei embarcado em imaginação. Mas sei o suficiente de História e de caminhos marítimos para perceber que o navio-escola Sagres tem funcionado como definitivo avatar da nossa autorepresentação enquanto «navegantes». Por isso a proibição de atracar em Macau dada ao veleiro pelo governo chinês é particularmente humilhante. E por isso não é aceitável que as autoridades portuguesas se limitem a achar o facto mais ou menos normal. Sem um lamento, um protesto, um epitáfio. Restam-nos assim os ferry-boats fretados. E, a mim, realizar a adiada travessia do Atlântico entre Portimão e o Funchal. A bordo do indomável Volcán de Tijarafe.