Segundo episódio desta série com palavras dos outros. Desta vez um pequeno texto de circunstância (e intervenção) do escritor, cronista e jornalista Manuel António Pina.
Pedras para o Irão
Manuel António Pina
«Opinião», Jornal de Notícias -19/08/2010
Cem cidades de todo o Mundo, entre elas Lisboa, serão no próximo dia 28 palco de protestos contra a selvajaria (como nomear o inominável?) das execuções por lapidação no Irão, onde, nas últimas décadas, 150 pessoas, a maior parte mulheres, foram apedrejadas até à morte e mais 25 aguardam actualmente idêntico destino, entre elas Sakineh Ashtiani, de 43 anos, mãe de dois filhos, acusada de adultério. A iniciativa «100 cities against stoning» é do International Commitee Against Execution e o protesto de Lisboa, nascido na Net, visa chamar ainda a atenção para as sentenças de morte aplicadas no Irão tanto a opositores políticos como a homossexuais ou adúlteros «por um sistema de justiça que não respeita os mais elementares direitos de defesa das suas vítimas». O protesto está marcado para as 18 horas, no Largo Camões. Eu teria preferido a sugestão do leitor de um dos blogues que divulgaram a iniciativa: levar à embaixada do Irão um monte de pedras conformes ao artº 104º do Código Penal iraniano, isto é, «não tão grandes que matem à primeira nem tão pequenas que não mereçam a classificação de pedras».