Talvez faça parte da última geração que construiu o seu amor pelo cinema debaixo dos telhados maternais dos velhos cineteatros de província. Daqueles com palco de cortina, pequenos camarotes, primeiro e segundo balcão, duas plateias e, certas vezes, um «piolho» onde era possível fumar e atirar cascas de amendoim para o chão. Dessa primeira experiência deslumbrada sobra-me a memória de alguns clássicos para o grande público (Cecil B. DeMille e John Ford forever!) e a recordação das paredes beije de foyers decorados com fotografias um tanto descoloridas de astros e de estrelas da Hollywood dos anos 40 e 50. Foi esta a primeira imagem que me ocorreu – lamento, não foi um fotograma de Some Like It Hot (1959), de Billy Wilder – quando soube ontem da morte de Tony Curtis (1925-2010). Um dos rostos omnipresentes nessas galerias íntimas do maravilhamento. Deve ter sido por isso que senti mais uns quantos gramas de passado a caírem no chão com algum estardalhaço.