Segundo uma notícia que saiu hoje no Público, em breve as agências funerárias poderão gerir «actividades conexas» àquelas que tradicionalmente exerciam, tais como a «gestão, exploração e conservação dos cemitérios». Uma actividade que até agora era entendida como um serviço eminentemente público, dirigida em regra pela administração local, passa a ter «permissão de gestão e de exploração privada». Sabendo nós que – tal como acontece com as casas de pasto, os bares de alterne e as farmácias – este é um ramo no qual não existe quebra de procura, e onde a política de preços é bastante livre e nada meiga, é fácil calcular o conjunto de interesses que a sua entrega à iniciativa privada irá despertar. Um passo mais no recuo do Estado social nas suas competências, mas agora numa original dimensão post-mortem. Podemos desde já antever planos de crédito que unirão gerações inteiras de profissionais da morte e de simples cidadãos endividados até à quinta geração de descendentes. Sempre com a negra possibilidade do despejo a pairar-lhes sobre a sepultura. Sem descanso até à eternidade.