Um combate pelo real

combate

A proposta requer coragem: «Terras de ninguém, espaços de anonimato, interioridade comum… eis as armas de uma política nocturna cujo objectivo é sempre o mesmo: atacar a realidade. Atacar a realidade para poder respirar.» É pois a realidade o princípio e o destino desta colectânea de ensaios de Santiago López-Petit. Subjugada a um capitalismo sem freios, que hoje nada deixa de fora, que tudo envolve, é nela que se encontra a chave para a compreensão de um mundo opressivo que urge superar. Quatro conceitos primordiais guiam o trabalho do autor. O primeiro reconhece o «Estado-guerra»: após o 11 de Setembro, a política global passou a ser determinada pelo combate, pela via do bombardeamento ou da «legislação furtiva», contra um inimigo que o Estado escolheu. O segundo conceito refere um «fascismo pós-moderno» construído sobre o reconhecimento público da diferença para melhor poder neutralizá-la. O terceiro fala do poder «como poder terapêutico», assente num contrato que apenas nos permite viver a vida que nos é concedida. O quarto conceito coloca-nos perante uma nova questão social: o «mal-estar» que esta situação intensamente tirânica suscita, forçando «um gesto radical de rejeição» que não é já «o gesto moderno que depois da destruição anunciava e preparava um novo começo». Este livro de filosofia política invoca pois um dever: mobilizar, a partir do próprio real e não contra ele, o combate diário contra a opressão instalada e o capitalismo. [Santiago López-Petit, A Mobilização Global. Seguido de O Estado-Guerra e outros textos. Deriva. Trad. e comentários de Rui Pereira. 248 págs. Nota publicada na LER.]

    Atualidade, Olhares.